terça-feira, 24 de março de 2009

AS VOLTAS DA VIDA...


Anda pelas ruas num dia normal, na rotina habitual, sem nenhuma novidade, nenhuma surpresa... de repente, num giro do ponteiro de segundos, tudo muda.

Alguns planejam cada detalhe do dia, da hora, semana, mês, ano, esquecendo-se que a vida não tem roteiro, um detalhe muda todo o planejamento.

Claro que ela tem ciência de que deve fazer uma programação básica, organizar o dia, saber o que deve ser feito, compromissos assumidos, mas e se tudo sair diferente? Cabeça fresca, o mundo não acaba, é só começar novamente...

Quando era criança, acreditava que poderia realizar todos os sonhos nas datas e idades estabelecidas. Ter dezoito anos era algo tão longínquo que seus planos eram totalmente possíveis. Mas a vida não é assim...

Nossos planos não acontecem como prevemos. Nossas relações de afeto, amizade, namoro, casamento, que pensávamos eternas, são etapas percorridas como forma de aprendizado, evolução, crescimento. Algumas relações mais longas outras mais curtas, mas todas com a sua importância.

Os planos profissionais também se modificam ao longo da vida. Que menino nunca quis ser bombeiro, piloto de carro e astronauta ao mesmo tempo? Que menina não sonhou em ser professora, secretária, caixa de supermercado, bailarina, tudo ao mesmo tempo também? Quando achamos que descobrimos nossa identidade, fazemos a inscrição para o vestibular. Grande e nada mensurável engano...

Passamos os anos correndo, buscando, sem atentar para os lados, sem ver as oportunidades oferecidas pela vida, sem perceber uma mão estendida, um abraço escancarado, um olhar que nos auxilie nas grandes provas. Demoramos muito tempo a perceber que, na verdade, esse é o propósito. Observar as dificuldades e aprender a lidar com elas com as ferramentas que a vida nos oferece.

A caminhada continua. Tenta permanecer atenta aos sinais, indicativos de que a vida é muito maior do que supunha e de que seus atos podem fazer a grande diferença na sua evolução.

Silvia Mara

quarta-feira, 11 de março de 2009

A CUMPLICIDADE NA GARUPA


Na minha época bicicleta era bicicleta mesmo. Ninguém falava bike, era bicicleta e pronto. E podíamos andar por aí, em qualquer lugar. As ruas não eram tão povoadas por carros, ônibus, táxis, motos, existia um espaço real para o que hoje se chama “transporte alternativo”.

Andávamos de bicicleta por sua liberdade, por não precisar de habilitação, por podermos pedalar na descida da ladeira, levantar os pés e sentir a velocidade aumentar, aumentar e, no fundo, não termos a certeza de que o freio iria funcionar. Não tinha nada de ecologicamente correto.

Tinha os dias chuvosos, as ruas de barro, de onde saíamos com as costas com catapora de lama. A mãe reclamando da camisa que fora branca e que nunca mais seria a mesma...

Tinha corrida no bairro, passeio na floresta, pedalada na praia, comprar pão na padaria bem longe, levar carta no correio, ir à casa de um amigo, curso de inglês, natação. Podíamos tudo de bicicleta. Hoje em dia, seguro mesmo, no máximo, uma voltinha no play. Para quem mora perto da praia, da lagoa, ainda arrisca uma volta no calçadão, mas quem oferece a certeza de que voltará com sua amiga para casa?

Até as lembranças ditas ruins são boas. Os dedos dos pés presos no pedal arrancando-nos pedaços ensanguentados, correntes soltas que nos deixavam com as mãos sujas de graxa até prendê-las novamente, quedas nas curvas, tombos inevitáveis nos aprendizados, joelhos, cotovelos, queixos ralados. Quem tem uma cicatriz proveniente da bicicleta tem história, e muito orgulho dela.

Tem uma lembrança especial quando falo em bicicleta... a garupa!!! Que delícia era levar um amigo ou ser levada por ele na garupa!!! Tornávamos-nos um só elemento, víamos as mesmas coisas, percorríamos os mesmos caminhos, ruas, becos, construíamos cumplicidade, amizade, confiança, afinal, conduzir um amigo é levar um bem precioso.

Os tempos mudaram, as décadas passaram e procuro ver as mesmas brincadeiras e alegrias nos olhos infantis com os quais me deparo todos os dias. Sem saudosismo, gostava mais da “minha época”. Mas as crianças de hoje preferem
hoje mesmo. E no final estamos todos felizes. Poderia ser melhor?

Silvia Mara

terça-feira, 10 de março de 2009


A vida não gosta de esperar,

A vida é pra valer,

A vida é pra levar...

Chico Buarque

quinta-feira, 5 de março de 2009

Mergulho da alma




Caminhava calmamente pela areia da praia, o vento sacudindo suas roupas, penteando seus cabelos, as pegadas revelando o caminho percorrido, as ondas batendo, apagando o rumo escolhido.

As imagens em sua mente denunciavam o ardor da paixão. A paixão indecente, que transgride, desnuda a alma, arrebata o peito, tira o sono e faz dormir profundamente.

Sentia-se feliz. Sua alma brilhava, resplandecia, irradiava luz e alegria. Sentia o coração pulsar com a mesma intensidade de uma montanha russa.

Mas em que momento tudo aquilo começou? Incrível, mas não sabia... Somente tinha a certeza de que não queria que terminasse.

Percebeu-se mulher, com as expectativas da adolescente, com a espontaneidade da criança, com os desejos de quem quer abraçar a vida com braços longos, infindáveis, para não perder nada, aproveitar cada instante, minuto, segundo.

Sentou-se permitindo que a água fresca molhasse seus pés, olhou para o horizonte enxergando o infinito, e compreendeu que aquele sentimento sempre estivera dentro dela, mas estava aprisionado no medo da entrega, da perda, da incerteza.

Não que agora estivesse livre de cair, mas a certeza de que se sentia mais importante por amar, fazia-a permitir o risco, render-se ao inevitável sentimento que tomava conta de seu coração. Agradeceu à vida a oportunidade oferecida, ainda que não soubesse o itinerário dessa viagem. Sim, o amor é uma viagem...

Viajamos por um caminho colorido, com pigmentos intensos, matizes desconhecidas. Estamos rodeados por flores de aromas que não desvendamos, o chão revela-se macio e o céu brilha mais que o esperado. O sol sorri somente para quem o encara, a lua dá o aconchego aos que se deitam sob sua luz e sentem as estrelas caírem em suas cabeças, como fogos de artifício que jorram do alto. A viagem não tem fim, não enquanto houver um coração disposto a amar, sentir, viver.

Levanta-se, mergulha sob as ondas, permite que todo seu corpo sinta o frescor do mar. Admite que o sofrimento seja possível, mas prefere autorizar o prazer em sua alma.

Silvia Mara