segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ENSINAMENTOS DE UM CORAÇÃO APRENDIZ...


Um dia ele tirou as rodinhas da minha bicicleta, segurou no banco e afirmou “vai, você consegue, confia em mim!”. Incrível o poder das palavras de um pai... Consegui! A princípio a dificuldade nas curvas provocou alguns tombos, deu-me alguns ralados nos joelhos, mas dei meu jeito. Logo aprendi a saltar da bicicleta e jogá-la no chão quando me via em perigo iminente de cair. Já não preciso mais saltar...

Durante a vida muitas rodinhas foram retiradas, muitos bancos foram segurados, muitas palavras foram ditas. E foi com elas que eu e minha irmã crescemos.

Ele organizou gincanas para uma multidão de crianças insanas em férias escolares. Planejou viagens fantásticas e acampamentos nos mais variados lugares...

Ele registrou nossa infância em Super 8, fazendo-nos sentir Charles Chaplin em seus filmes de cinema mudo. Tirou fotos, muitas fotos, mantendo registrado cada data, momento, alegria, aniversário, passeios...

Ele ensinou que não precisa ser menino para se apaixonar por futebol, vestir a camisa do Fluzão, ir ao maracanã, brincar na rua, se defender quando necessário...

Ele permitiu que experimentássemos a vida. Praticamos esportes variados, estudamos línguas estrangeiras, viajamos, brincamos de jogos de tabuleiro, cartas, vídeo game, mas sempre com a preocupação de que não nos tornássemos escravas de nada. Puro aprendizado, prazer e lazer.

Ele nos ensinou com exemplos. A leitura habitual e constante nos foi apresentada muito cedo e hoje não vivemos sem o bom e companheiro livro (hábito que passamos para a geração posterior). Compramos, trocamos, emprestamos, fazendo girar a energia que permeia a boa literatura...

Ele nos apresentou a música e seus inúmeros estilos, com a única preocupação de que navegássemos nos sons e suas notas. Ouvimos rock, MPB, samba, jazz, melodias românticas, deixando nossos ouvidos permeáveis ao prazer da musicalidade.

Ele consertou nossos brinquedos, furou paredes, pendurou quadros e estantes, fazendo-nos perceber que um pouco de curiosidade, criatividade e a ferramenta certa ajudam muito no dia a dia. Hoje sabemos “nos virar” um pouco. Não tem ralo que permaneça entupido, carrapeta que não seja trocada. Sem tirar o mérito do nosso vô, que sabemos ter sido o grande precursor dessa história...rs

Ele trabalhou para que pudéssemos desfrutar a vida. Deu-nos estudo, educação, limites, algumas broncas e muito carinho. Sua fala sempre pronta a ensinar forneceu-nos meios para que alcançássemos nossos desejos e escrevêssemos páginas bonitas em nossas histórias.

Crescemos e percebemos que muitas vezes repetimos seus gestos com as crianças que nos chegam. Os bons hábitos contaminam a pele, criam raízes impossíveis de serem retiradas, provocam mudanças verdadeiras.

Estabelecemos uma relação pautada em respeito, ouvir e ser ouvido. Compartilhamos alegrias, dividimos nossas tristezas, comemoramos nossas vitórias, analisamos nossas derrotas.

Obrigada por nos ensinar a não desistir de sonhar.

Obrigada por nos mostrar o caminho e permanecer ao nosso lado em qualquer que fosse nossa escolha.

Obrigada por permitir que caíssemos e nos ajudasse a levantar depois.

Obrigada por nos amar incondicionalmente.

Obrigada por ser nosso PAI.

Amamos você!

FELIZ DIA DOS PAIS!

domingo, 9 de agosto de 2009

Tããão EU...


"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

Nietzsche

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A mente em movimento


Bebeu o chá fumegante até o final e deitou-se no sofá. Fazia frio lá fora, mas o ventilador girava num movimento hipnotizante, fazendo-a pensar em como estava sua vida agora.

Caminhou pelos pensamentos e lembranças, desfilou pelo emaranhado de recordações, patinou nas derrotas, correu pelas vitórias e percebeu que ainda havia muito a fazer.

A vida não dá tréguas, exige ações ininterruptas, não quer que paremos pra um cochilo. Ou será que quer?

Às vezes acha que pode e deve parar, já não sente mais a culpa por não estar em movimento. Gosta de estacionar um pouco, parece que ao estar parada percebe melhor o que acontece em sua vida e fica mais fácil resolver os percalços do destino.

Tanta ansiedade em abraçar o mundo foi ficando para trás com a chegada da famosa maturidade. Não tem mais o desespero da adolescência, a explícita agonia de quem tem pouco tempo para fazer muita coisa. Já sabe que não é assim. Sem calma e serenidade não avança, não caminha, acaba tropeçando na vida.

As vitórias serviram como estímulo para que continuasse, é a premiação por um movimento bem executado. O êxtase da vida. Mas as derrotas, tão choradas, sentidas, excomungadas, foram o que de mais precioso aconteceu.

Sem ser piegas e prender-se a clichês, ela percebeu que, se hoje estava mais serena, a culpa era muito mais das derrotas do que das vitórias. Cada fracasso ensinou-a a pensar onde errara obrigando-a em insistir em acertar. Cada fracasso fez com que seus passos seguintes fossem mais elaborados e elaborar leva tempo, exige calma, paciência, nada de impulsividade. Como conseqüência alcança-se o estado sublime da tranqüilidade.

Ela riu. Pensando assim parece que foi fácil, de um estalo tudo ficou sereno. E não foi nada disso. Antes de tudo chorou, reclamou, gritou, desdenhou de si mesma, da vida, de suas burrices, mas passou. É, tudo passa. Vida que segue.

As recordações trouxeram amigos distantes, que nem sabe por onde andam e a causa de seu sumiço. Perderam-se na infância, nas férias escolares, nos verões, na adolescência. Mas tem os amigos de agora, alguns permanecerão, outros sumirão também.

Sua mente é como o mar. Tem suas ressacas, varre todo o lixo, limpa as areias onde colocamos os pés, mas precisa da calmaria posterior, aquela que nos permite um mergulho sem preocupações, com a certeza de que podemos nadar para onde quisermos.

Gostou da ausência de movimento. Sentiu-se forte, como se as pás do ventilador tivessem recarregado suas baterias como numa usina eólica.

Levantou-se, encheu a xícara novamente e dessa vez sentiu o verdadeiro sabor da vida.

Silvia Mara